Foto: Portal Jornadas da Comunicação |
A partir de hoje (1º), estão
proibidas ações de merchandising (publicidade indireta colocada
em programas, com a exposição de produtos) dirigidas ao público infantil em
programas criados ou produzidos especificamente para crianças em qualquer
veículo. A norma faz parte das novas recomendações para a publicidade que
envolve crianças e adolescentes, definidas no Código Brasileiro de
Autorregulamentação Publicitária.
Segundo
o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), a publicidade
de produtos e serviços direcionada a esse segmento deve se restringir aos
intervalos e espaços comerciais.
As
alterações, incorporadas à Seção 11 do código, que reúne as normas éticas para
a publicidade do gênero, também preveem que as ações de merchandising em qualquer programação e veículo não
empreguem crianças, elementos do universo infantil ou artifícios publicitários
com o objetivo de captar a atenção desse público específico.
Segundo
o Conar, a nova redação é fruto de um pedido da Associação Brasileira de
Anunciantes, reconhecendo a necessidade de ampliar a proteção a públicos
vulneráveis, e representa um aperfeiçoamento das normas anteriores. O órgão
ressalta que, ainda que seja de adesão voluntária, o documento é unanimemente
aceito e praticado no país por anunciantes, agências de publicidade e veículos
de comunicação.
Ao
defender regras mais restritivas para o setor, o Conar destaca ser contrário à
proibição total da publicidade infantil, por entender que se trata de parte
essencial da educação. “Privar crianças e adolescentes do acesso à publicidade
é debilitá-las, pois cidadãos responsáveis e consumidores conscientes dependem
de informação", disse, em nota, o presidente do conselho, Gilberto
Leifert.
Para
definição do público infantil, o código adota os parâmetros do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA). De acordo com o ECA, são consideradas crianças
meninos e meninas até 12 anos de idade incompletos e adolescentes, os que têm
entre 12 e 18 anos de idade.
Na
avaliação de Ana Cláudia Bessa, uma das fundadoras do movimento Infância Livre
de Consumismo, coletivo formado por pais e mães inconformados com os estímulos
da publicidade infantil ao consumo excessivo, é preciso esperar para verificar
como as novas regras serão colocadas em prática e de que forma o Conar vai
lidar com possíveis descumprimentos.
A
ativista, que defende o consumo consciente, teme que a incorporação das
recomendações seja um “movimento de bastidores” para evitar que o Brasil
tenha uma lei específica que regulamente o assunto.
“O
Projeto de Lei 5.921/01, que proíbe a publicidade dirigida à criança e
regulamenta a publicidade dirigida a adolescentes, tramita há mais de dez anos
no Congresso Nacional. Tenho receio que, diante da grande pressão da sociedade,
o Conar tenha feito essa alteração para evitar mudanças mais profundas,
previstas no projeto”, disse.
Ela
lembrou que a autorregulamentação do setor, exercida pelo Conar, é importante,
mas não é suficiente, uma vez que o código em que se baseia não tem força de
lei. “O Conar apenas recomenda. A lei é fundamental porque é preciso haver
alguém que puna, que aplique multas pesadas em caso de descumprimento”,
destacou.
Segundo
especialistas, as crianças não têm desenvolvimento psicológico suficiente para identificar estratégias de persuasão utilizadas nas peças publicitárias e
facilmente confundem o cenário e os resultados produzidos com a realidade.
É
disso que a assistente de direção de arte Thaiane Pinheiro, 23 anos, se queixa.
Mãe de um menino de 5 anos, ela diz que é preciso haver “muita conversa” e
firmeza nas decisões para driblar o impulso consumista despertado pela
propaganda nas crianças.
“Normalmente,
ele quer todos os brinquedos que aparecem nos comerciais. Eu converso muito com
ele e sempre dou [presentes] em datas comemorativas, como Natal e aniversário”,
disse, destacando que é comum que o carrinho ou o boneco tão pedido perca a
graça em pouco tempo.
“Muitas
propagandas iludem as crianças. São sempre coloridas, mágicas e trazem a
sensação de que, com o brinquedo, a criança pode ser um super-herói. Quando
elas ganham o brinquedo ficam felizes por umas duas horas até descobrir que ele
[o brinquedo] não faz tudo o que estava no comercial e logo passam a querer
mais e mais”, disse.
Por
Agência Brasil
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